Medicina Indígena, Africana e Jesuítica

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  • Posted on: 24 October 2018
  • By: claudio

E no Brasil, como foi implantado o parto deitado?

Após 1500 até a chegada de D. João VI ao Brasil, predominava a medicina indígena, africana e jesuítica. Os raros físicos e cirurgiões formados eram em geral cristãos novos, vindos da metrópole.

Com os holandeses, publica-se o primeiro tratado de patologia e terapêutica brasileira, de Willem Piiso, 1648. 

Com a chegada da família real e a abertura dos portos, desembarcam também os naturalistas viajantes como Von Martius, Saint-Hilaire. Percorrem o Brasil, indagam sobre as propriedades das plantas nativas e preconizam o seu uso. Nesse mesmo ano, são criadas as escolas de Medicina de Salvador e Rio de Janeiro.

Em 1832, instituem-se nas faculdades os cursos de Medicina, Farmácia e Partos, concedendo-se aos diplomados os títulos de Doutor em Medicina, Farmacêutico e de Parteira. Em 1866, a medicina brasileira passa a ser considerada científica com a Escola "Tropicalista Baiana", onde Wuchere Paterson e Silva Lima estudam a ancilostomíase, filariose, ofidismo e beribéri. 

Após a Independência predomina soberana a influência da medicina francesa. Os livros são em francês e posteriormente traduzidos. Essa influência perdura até após a Segunda Guerra, quando então é substituída pela influência norte-americana. 

A obstetrícia é praticada por parteiras. Para as cidades imigram parteiras estrangeiras, quase todas francesas. No Sul, alemãs.  Do reconhecido parteiro da escola do Rio de Janeiro, Professor Doutor Fernando de Magalhães, temos um texto que ilustra o posicionamento da inteligência brasileira em relação à época, publicado em junho de 1928, na Revista de Antropofagia ano 1, nº 2: 

INCITAÇÃO AOS CANIBAIS

O atraente parteiro, professor, acadêmico e orador doutor Fernando de Magalhães, esteve há dias em São Paulo, onde falou sobre feminismo, deu uma lição de obstetrícia e concedeu uma entrevista.

É essa entrevista que merece ser conhecida. O doutor Fernando fez nela a apologia entusiasmada da Sociedade Brasileira de Educação. Sociedade benemérita, sociedade utilíssima, sociedade isto, sociedade aquilo.

A prova? Aqui está (palavra textualíssima):

"A Biblioteca da Associação - acentuou - é o que há de mais perfeito no gênero, como ordem e como método na sua organização. Uma de suas seções, por exemplo, a biblioteca infantil, exigiu um trabalho enorme de paciência e perspicácia. Necessitou-se de um inquérito entre as crianças, para se saber quais os livros preferidos, chegando-se a resultados estupendos. Uma criança de doze anos, por exemplo, à qual perguntou-se qual o livro preferido, respondeu prontamente: "Lusíadas, de Camões".

Ora, ora, ora, ora. Que brincadeira é essa?

Então o raio de menino com doze anos de idade já é tão imbecilzinho que prefere Camões a Conan Doyle? E é isso que se chama resultado estupendo?

O doutor Fernando quis troçar com a gente. Não tem que ver.

Menino que chupa Camões como se fosse pirulito de abacaxi não é menino: é monstro. Mas que monstro: toda uma coleção teratológica.

É também para guris deste quilate (e não só para os peraltas), que existe chinelo de sola dura.

Põe a gente triste verificar que um fenômeno assim é como não podia deixar de ser, brasileiro. Já no grupo escolar a molecada indígena ouve da boca erudita de seus professores que o Brasil foi descoberto por acaso e Camões é o maior gênio da raça.

A molecada cresce certa dessas duas verdades primaciais.

Daí o mal imenso: o país, descoberto por acaso, é justo que continue entregue ao acaso dos acontecimentos. Mesmo porque a gente não tem tempo para perder com bobagens. Camões absorve todos os minutos inteligentes.

Esse antropófago que vem desde o nascimento desta terra (há um testamento de bandeirante escrito numa folha manuscrita de Os Lusíadas) devorando com delícia as gerações nacionais precisa, por sua vez, ser deglutido.

É urgente por boi tão gordo na boca de sucuri brasileira. E que seria de aperitivo a Sociedade Brasileira de Educação.

Para rebater, a sobremesa será o doutor Fernando, que é manjar, doce e fino.

 

Antônio de Alcântara Machado.