América Pré-Colombiana
Na América pré-colombiana, os partos para os Incas eram de cócoras ou em cadeiras baixas, como se vê nos vasos de cerâmica que contam a história desses povos.
Os Incas faziam parte do que era chamada Confederação Nahua, que abarcava desde o altiplano boliviano aos dois lados da cordilheira andina; sua capital era Cuzco, que significa umbigo do mundo. Pela descrição que é dada da mesa do Inca Sol, Cuzco era o centro cosmopolita, recebia produtos da Amazônia, da costa do Pacífico e do altiplano.
Nos baixos relevos nas pirâmides dos Maias veem-se representações de partos, com a mulher com um pé no chão e outro joelho no chão.
Seus conhecimentos médicos são famosos pelas trepanações bem-sucedidas, pela astrologia professada pelos sacerdotes (Amautas) com um calendário, com aproximação milesimal, em estudo até hoje.
Dos Astecas, temos a estatueta da Deusa do Parto, Tlazolteol (Coleção Robert Wood Bliss, Washington, DC) parindo o Deus do Milho, Centéotl, na posição de cócoras, com a cabeça do nenê nascendo. Essa deusa representa o "coração da terra". Tlazolteol, em Nahua = aquela que come a "sujeira". Os Huaxtecas chamavam-na de Ixcünan = a ama do algodão, pois viviam dessa cultura.
Mais longe da cordilheira andina, indo em direção ao Atlântico, encontramos os índios das florestas tropicais, cujos relatos da época do descobrimento coincidem com os fatos ainda hoje encontrados nas reservas e nos grupos mais arredios. Os grupos da bacia do Paraguai, como os Makãs, têm os seus partos como os egípcios; os Kaigangue e os Guaranis, de cócoras.
Para os Mbya, existe o conceito de reencarnação da alma. A palavra alma, próxima a encarnar-se, elege ela mesma a quem hão de servi-lo de pais na terra. Muitas tribos Chaqueñas explicam a paternidade pela crença de que as criaturas se formam do "espermatozoide" que brota no ventre, como a semente na terra.
Os ritos mágicos variam de tribo a tribo. Os preceitos alimentares e os padrões de comportamento mantêm certa semelhança aos dos outros povos do planeta. Na gravidez, há regras alimentares; proíbe-se o uso de certos alimentos por dificultarem o trabalho de parto. A proibição do relacionamento sexual durante a gravidez - como acontece entre os hindus - e em certos casos durante a amamentação leva à poligamia e, em casos extremos, ao infanticídio, pelo medo de perder o marido. Em certas tribos, nos partos gemelares, um deveria morrer, pois significava má sorte.
A purificação das mulheres índias após o parto é feita pelo isolamento. Entre os hebreus, quando o feto é do sexo masculino, a mulher não deve mexer em objetos de cozinha por uma semana e até 33 dias não pode tocar um objeto sagrado; se o feto for do sexo feminino, de duas semanas a 66 dias. Entre os hindus essa proibição é por um mês.
Licurgo de Castro Santos descreve, na sua História Geral da Medicina Brasileira, o parto das índias: "Não obstante achar-se grávida, a mulher nativa trabalhava de sol a sol na labuta doméstica, sem repouso e sem experimentar perturbações em seu estado. A gestação processava-se normalmente e o parto fazia-se com grande naturalidade, às primeiras dores, onde quer que estivesse, no mato cortando lenha, à beira d'água, ou no terreno da aldeia, a indígena punha-se de cócoras e o feto descia, seguido das páreas e de quantidade mínima de sangue. A própria parturiente seccionava o cordão umbilical com uma lasca de taquara".
Esse relato dos primeiros colonizadores coincide com os depoimentos que tomamos em nossas viagens pelo Sul do Brasil, exceto no fato de os partos atualmente serem dentro de casa e tanto mais complicado quanto mais aculturados. Em Mangueirinha, pude ver a intervenção de um pajé em um trabalho de parto:
"Estava nessa reserva realizando exames de prevenção de câncer ginecológico, quando a enfermeira do posto me perguntou se eu poderia auxiliar no parto de uma índia de 20 anos que estava tendo o seu primeiro filho.
A moça com essa idade era considerada pelos índios muito velha para ter o primeiro filho.
Pela manhã, fomos a enfermeira e eu, guiados pelo cacique Cretã, por uma trilha para o interior do mato.
Na penumbra do casebre, encontrei a moça sentada de croque. Seu parto havia começado há sete horas, e em volta da casa, cercada pelos familiares, o ambiente era de preocupação.
Fiz um toque e senti a cabeça do nenê já alongada pelo tempo de expulsão. Naquela hora eu era visto como o detentor de todos os conhecimentos e como uma esperança.
A índia, com os olhos ansiosos no médico da cidade, insegura, inferiorizada em sua cultura, fazia vãos esforços.
Sem recursos disponíveis, tentei ajudá-la de diversas maneiras. Nas minhas tentativas frustradas percebi como o fórceps estava fora do intervalo...
Vi-me cercado de pessoas e expectativas.
Dei-me um prazo para remover a índia, apesar das dificuldades do trajeto.
Foi então que um velho maltrapilho e humilde pediu licença para ajudar.
Era o pajé.
Foi lá fora, pegou umas plantas, macerou-as, preparou uma bebida e deu à mulher. Entoou uns cânticos.
A índia iluminou-se e adquiriu novas forças.
O nenê nasceu uma hora depois, bem.
Foi nesse momento que acabou o medo de que algo pudesse acontecer para o nenê pelo período expulsivo prolongado com a mãe na posição vertical."