Neurotransmissores

Neurotransmissores

Os neurônios trocam mensagens entre si, convertendo impulsos elétricos em químicos. Os agentes dessa conversão são os neurotransmissores. A cada intercâmbio, parte dos neurotransmissores é destruída por enzimas, outras transmitidas para a cédula seguinte e os demais voltam para onde saíram, num processo chamado de recaptação.

A transmissão por intermédio desses agentes bioelétricos constitui-se num processo sensível que pode ser aumentado ou reduzido para se adequar a qualquer situação fisiológica. Num dia típico dentro do cérebro trilhões de mensagens são enviadas e recebidas, sejam elas positivas, alegres, sombrias ou depressivas. Quando a vida está tranquila e sem sobressaltos os neurotransmissores cumprem seu papel. Sob situação de forte estresse eles passam primeiramente a atrasar a transmissão das mensagens e na sequência começam a falhar. O indivíduo entra num estado de desequilíbrio químico cerebral. Sente-se sufocado pela vida, sofre insônia, cansaço, múltiplas dores e falta de energia. Também fica deprimido, angustiado e com a sensação de que a vida é um peso insuportável.

 

Correspondência vegetal dos neurotransmissores

Vegetal                     -          Animal

Muscarina                 -          Acetilcolina

Efedrina                    -          Noradrenalina

Dimetiltriptamina      -          Serotonina

Morfina                     -          Peptídeos opiácios (atuação menor e mais curta que o ópio)

 

Principais Neurotransmissores

 

Serotonina

Responsável pelo relógio interno, determinando os períodos de sono e vigília. Alterna-se com a secreção melatonina num ciclo de 25 horas.

Sob a luz do sol, esse ciclo diminui em 1 hora e leva três semanas para se ajustar. Os ciclos de sono demoram 90 minutos cada, indo a níveis profundos, reparadores, de início e superficializando na fase dos sonhos. Esses ciclos repetem-se até o despertar descansado. O ciclo de secreção hormonal é circadiano, assim o do cortisol, responsável pela tolerância ao estresse, diminui à noite no se preparar para dormir e tem pico máximo entre duas horas e quatro horas da manhã. O cortisol aumenta com "sons de guerra", fome, trauma, luta e fuga.

A serotonina é responsável também pela temperatura corporal que aumenta ao despertar e diminui ao adormecer.

Estimula a secreção de prolactina, cuja emissão máxima ocorre logo após o adormecer, e o hormônio de crescimento que faz a homeostase da célula. Age sobre a percepção e o humor. Numa situação de forte estresse, é o primeiro neurotransmissor a falhar, bloqueando a capacidade de dormir adequadamente.

 

Dopamina

Esse neurotransmissor age no sistema límbico, o das emoções, instintos e funções vitais e encontra-se em áreas do cérebro contíguas aos lugares de maior secreção de endorfina. O estresse diminui a dopamina e como consequência a endorfina. Sem ela a vida se torna dolorosa e sem prazer.

Dopamina -> Endorfina

 

Noradrenalina

Aumenta a atenção e a vigilância. É responsável pelo catabolismo de reservas de energia e que dá sensação de vitalidade, o "pique". Em casos de deficiência desse neurotransmissor ocorrem sudorese na palma das mãos, sensação de falta de energia, de cansaço, exaustão. Na gravidez, é mais secretada que a adrenalina. O feto tem a glândula suprarrenal maior que a de um adulto.

Durante o nascimento, ela estimula os movimentos respiratórios e o catabolismo das reservas de energia fazendo com que o feto nasça alerta e com alto nível de açúcar e substâncias nutritivas; Também faz o fluxo sanguíneo do feto ir para órgãos vitais.

A noradrenalina no nervo vago tem efeito parassimpático que faz diminuir ou aumentar o batimento cardíaco do feto. A compressão da cabeça fetal durante a contração uterina no parto faz emissão de catecolaminas alterando os batimentos cardíacos do feto sem relação com a sua oxigenação. Na primeira hora do nascimento influencia na ligação mãe-filho deixando-os alertas e vigilantes.

Lee Salk relacionou o suicídio adolescente com as manobras de reanimação do nascimento.

 

B-endorfina

Morfina endógena. Neuropeptídio de cadeia curta, uma das encefalinas, está relacionado nos lugares onde há receptores opiáceos e sintetizado junto com a ACTH. É um neuromodulador que modifica a transmissão de uma célula nervosa para outras, nas sinapses, fixando-se nos receptores das membranas celulares como uma chave na fechadura, despolarizando-as. Assim o impulso nervoso transmitido, que é proporcional à polarização da membrana, sofre uma diminuição. Todos os seres têm receptores de endorfina. Ela está presente no intestino, rim, placenta, olho, glândula pineal.

A felicidade é o fluxo correto de endorfinas. É um veículo do prazer, da euforia, da sensação oceânica, consciência cósmica, fusão com o todo.

Endorfina -> Prazer

A atuação das endorfinas está presente nas escolhas boas e más e na atuação da magia. Ela amplia o limiar da dor, seda e é analgésica, atuando positivamente na memória e no aprendizado. São mais emitidas na boa relação médico-paciente, assim como no efeito placebo.

"Se o médico dá um pedaço de barro ao paciente este tem que melhorar" (Ayurveda).

Vários fatores estimulam ou inibem a secreção de endorfina.

O estresse agudo intermitente é acompanhado por elevação de endorfina. O estresse de pequena duração causa analgesia não opioide, estresse em que a duração é maior causa à liberação de opioides. O estresse crônico libera endorfina, mas abole o efeito analgésico.

Estresse positivo: se o fluxo de endorfina é constante e adequado este funciona como um estimulante e tonificante do sistema nervoso autônomo, aí as endorfinas têm um efeito relaxante e prazeroso.

Estresse negativo: quando há uma sobrecarga levando ao extremo cansaço, não há correspondência na emissão de endorfinas, a carga está além do limite. O "workaholic" ultrapassa esse limite, fazendo com que o estresse negativo transforme-se em positivo. É uma forma de drogadição.

O excesso de estímulo, consumo, televisão, fumo, álcool e drogas levam ao estresse e a necessidade de férias periódicas. Por exemplo, no fumo, a nicotina, na sua ação primária, aumenta as endorfinas e a vasopressina que melhora a memória e epinefrina que atua na vigília. Como ação secundária, baixam os neuropeptídeos, levando à necessidade de novas doses. Paralelamente intoxicam o organismo.

  • Como estimular a secreção de endorfinas: Riso, memórias positivas, relaxamento, abraço e afeto, massagem, acupuntura, exercícios físicos, meditação, morte.
  • Como desestimular a secreção de endorfinas: nível de expectativas elevado, falta de exercício, álcool, fumo, abstenção do fumo, estresse, endurecimento, contração, dieta.

No parto, durante as contrações há elevação da ocitocina, da endorfina e do ACTH. Com o nascimento cessam as contrações dolorosas, ficando os neurotransmissores em altos níveis tanto da mãe quanto do recém-nascido. A criança na sua primeira hora de vida está com sua atenção elevada, ela tudo olha, observa, sente: é amada, aconchegada, alimentada.

Endorfinas em alta circulando, sendo a causa das sensações e secretadas cumulativamente como efeito do toque, do abraço, dos sons amorosos. 

A sensação de plenitude, de confiança, de fusão é o "imprint" inicial para essa vida na terra.

No parto, quando a dor, o medo e a angústia sobrepõe-se ao estímulo de sensações positivas, a  tradução neuroquímica correspondente é a da sensação de vazio, de abandono, de ansiedade ou algo que será levado como estigma. Ao longo do tempo, esse vazio neuroquímico tenderá a ser preenchido com comida, fumaça, roer das unhas, morfina, cocaína, heroína e outra. O vazio endorfínico que, com o acúmulo de estresse que a vida traz, deixará esse ser à mercê da depressão, do pânico, da drogadição.

 

Ocitocina

A ocitocina estimula a célula mioepitelial da mama provocando a ejeção do leite, causa contrações da musculatura lisa do útero no parto sendo responsável pela expulsão do nenê e da placenta. Aumenta durante a ejaculação feminina e masculina. Após a masturbação, se eleva e permanece elevada na mulher por mais tempo. As mulheres multiorgásticas têm taxas muito mais altas de ocitocinas que as monorgásticas. A ocitocina eleva-se pelo estímulo na vagina na relação sexual. Durante o orgasmo, sua emissão causa contrações uterinas que aspiram o espermatozoide facilitando seu encontro com o óvulo.

No parto o pico de ocitocina acontece meia hora após o nascimento. A cada sucção do nenê sua emissão aumenta, ejetando a prolactina da hipófise e o leite da mama, causando contração uterina e ajudando na expulsão da placenta. Faz contração da vagina e do ligamento que vem do útero indo até os grandes lábios. A sucção no nenê modula a sua amamentação e faz com que seja produzido um leite específico para a sua necessidade. Na mãe dá prazer e, ao contrair os grandes lábios, a vagina e seus órgãos pélvicos, auxilia na tonificação e colocação da musculatura, prevenindo as distopias e prolapsos.

Hamilton, no Canadá, fez experiência com ratos treinados a se orientarem em labirintos, ao receberem ocitocina eles esqueciam o caminho. Ao terem noradrenalina injetada eles ficavam mais atentos e percorriam o caminho com mais rapidez. Ao associar os dados da ocitocina com a endorfina explica-se o dito popular que "a dor do parto é uma dor esquecida". Por sua vez, o feto maduro também produz esses neurotransmissores e aí pode estar à explicação do esquecimento das memórias intrauterinas.

O processo de parto dos mamíferos é doloroso e iniciado pelas mensagens hormonais do feto. O sistema de proteção à dor do parto é dado pela secreção de endorfinas, cujo nível é maior no cordão umbilical que na mãe. A ocitocina, endorfina e noradrenalina propiciam o "imprint" e a ligação mãe e filho. É o modelo prototípico que permanece por toda a vida e quando dois parceiros se abraçam secretam endorfinas. Na estimulação sexual, os parceiros secretam ocitocina, noradrenalina e PIV.

O efeito da ocitocina no processo de maternidade foi demonstrado em experiências com ratos machos, que ao terem essas substâncias injetadas, passaram a adotar um comportamento tipicamente materno. Injetado um antagonista da ocitocina numa rata amamentando, ela se desinteressa pela prole.

 

Peptídeo intestinal vasoativo

Inibe a atividade da musculatura lisa, aumenta o fluxo de sangue do miométrio. Com a estimulação do clitóris seus níveis aumentam. Na estimulação sexual é responsável pelo ingurjitamento pélvico, ereção, secreções vaginais e relaxamento da musculatura lisa. A região da coluna sacra e o nariz também são ricos em fibras nervosas VIPérgicas.