Soja Transgênica
Soja
Histórico
A primeira planta transgênica - um fumo resistente a antibiótico - foi criada em 1983 com a transferência de um DNA de bactéria para uma planta. O tempo calculado para que uma variedade transgênica chegasse no mercado era de 10 anos e os investimentos necessários da ordem de U$ 150 milhões. Em 1992, o tomate construído pela Calgene, que demora mais para amolecer, foi desregulamentado nos Estados Unidos. Em 1994, os EUA começaram o cultivo da soja, melão, algodão e batata. Em 1995, iniciaram o cultivo do milho Bt.
Atualmente nos Estados Unidos, metade de toda a produção de soja, algodão e milho vem de lavouras geneticamente modificadas. O restante é produzido com sementes convencionais. Cerca de 60% de toda a comida processada nos Estados Unidos já tem algum tipo de matéria-prima de origem transgênica. Estima-se que os alimentos geneticamente alterados sejam consumidos por 2,5 bilhões de pessoas ao redor do mundo.
Em 1990 não havia um único metro quadrado plantado com esse tipo de semente para fins comerciais. Até o final de 99, estima-se que as plantações de transgênicos para fins comerciais ocupem 40 milhões de hectares de lavouras no mundo todo - área maior que a da Alemanha. Entre os países que já autorizaram a comercialização desses grãos estão os três maiores exportadores mundiais de soja - Estados Unidos, Brasil e Argentina -, além de outros grandes produtores, como Austrália, Canadá, China e México. As safras de grãos transgênicos movimentarão 1,8 bilhão de dólares neste ano, valor que deve chegar a 20 bilhões dentro de mais uma década.
A rapidez da liberação das plantas transgênicas e o crescimento desse tipo de atividade, nos Estados Unidos, chamou a atenção da comunidade científica que desde os experimentos iniciais alertou para a falta de estudos em relação aos riscos a longo prazo e que os testes e protocolos experimentais necessários à definição da segurança para o meio ambiente, para saúde humana e animal não estavam convenientemente detalhados. Como por exemplo, o problema de insetos resistentes a proteína tóxica do Bacillus thuringensis (toxina Bt) incorporada no algodão seletivamente na folha; a transferência de gene de resistência a um herbicida da canola para Brassica compestris, uma planta selvagem da mesma família; o gene da resistência a um vírus, em uma abobrinha transgênica, tranferido para uma erva daninha da mesma família; o gene de trigo transgênico resistente a um herbicida transferido a Aegilops cylindrica. De acordo com a presidente da SBPC Glaci T Zancan - Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, "em condições apropriadas, os transgenes podem escapar e produzir novas pestes ou decrescer a diversidade genética dos centros que tem as linhagens selvagens originais".
Meio Ambiente
Um dos riscos levantados pela comunidade científica é a destruição da biodiversidade de insetos com a quebra da cadeia alimentar. Um exemplo que pode ser citado é o das borboletas monarca. O etnólogo John Losey, da Universidade de Cornell, em Ithaca, NY, comprovou em pesquisas de laboratório o envenenamento de lagartas das borboletas monarcas (Daneus plexipus) que ingeriram pólen de milho transgênico. Losey realizou os testes utilizando o pólen de milho natural e o N4640-Bt modificado geneticamente através da inserção da bactéria (Bacillus thuringiensis). O milho Bt produz uma proteína que bloqueia o sistema de absorção de alimentos das larvas. Depois de quatro dias consumindo as folhas banhadas em pólen transgênico, a taxa de sobrevivência das larvas foi de 56%, enquanto as criadas no pólen normal ou sem pólen foi de 100%. Os resultados foram publicados pela revista científica britânica Nature, em maio de 99.
As borboletas monarcas ocorrem particularmente no meio-oeste americano, o chamado cinturão do milho. Mas ela existe também no Brasil, onde se alimenta da mesma planta, conhecida aqui como oficial-de-sala ou erva-de-rato. Durante o inverno as monarcas voam para o México e retornam para os Estados Unidos na primavera, espalhando-se ao longo da fronteira com o Canadá. O senso de direção das borboletas monarcas ainda é um dos grandes mistérios da natureza.
De acordo com o presidente da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável, Israel Klabin, é preciso questionar até que ponto os 8 milhões de hectares plantados com milho transgênico podem contaminar as populações de borboletas e, por elas, toda a cadeia biológica do ecossistema. "É bom lembrar que só a floresta da Tijuca, no Rio, tem mais espécies de insetos do que os Estados Unidos. Logo, a nossa preocupação deveria ser maior", alerta Glaci Zancan.
Segurança Alimentar
Desde que a empresa Pioneer criou uma variedade de soja transgênica que causa alergia, devido a uma proteína com alto teor de metionina proveniente da castanha do Pará, o potencial alérgico dos produtos geneticamente modificados têm sido motivo de preocupação. Os genes manipulados podem transferir seus fatores alergênicos. No Japão, a empresa Showa Denko criou bactérias transgênicas para produzir vitaminas e aminoácidos (L-triptofano), provocando 35 mortes e 5000 intoxicações da alergia e isso tem preocupado, particularmente depois que se construiu uma soja transgênica contendo.
No caso da soja transgênica, os testes de segurança realizados pela Monsanto em 1995 não consideram a alteração da expressão das próprias proteínas alergênicas da soja decorrente na inserção de novo gene e da aplicação do herbicida Roundup na planta. Vale ressaltar que em resposta às condições ambientais, um conjunto de genes é ativado podendo levar ao acúmulo de determinadas proteínas em tecidos vegetativos. Além do mais, um ano depois de aplicado Roundup no solo, foram encontrados resíduos de nitrosamina (substância carcinogênica) em cenouras, alfaces, na água e no poço.
Especialistas na área de veterinária também criticam o tempo reduzido dos ensaios dos testes para assegurar a higidez dos animais que são alimentados permanentemente com ração de plantas transgênicas contendo a toxina Bt. O tempo do teste foi de 1 mês para os ratos e de 3 semanas para as vacas. Esse tempo de experimentação foi muito curto, ele deveria ser maior cobrindo um período reprodutivo para assegurar a inocuidade da proteína isolada. "Isso é importante porque tomamos remédios em pequenas doses, mas consumimos alimentos em grandes quantidades", destaca Karen Suassuna, da entidade ambientalista Greenpeace. Além disso, não foi usada a farinha da soja modificada geneticamente, portanto não há como excluir a possibilidade de que a modificação introduzida no genoma possa ter produzido o desbloqueio de genes não expressos e que possam corresponder a proteínas tóxicas. O mecanismo de ação da toxina, qual seja alterar o transporte de íons e de nutrientes no intestino dos insetos, deve ser avaliado nos demais animais alimentados por longos períodos com milho transgênico, por exemplo.
Os riscos dos transgênicos para a saúde dos consumidores
Há uma série de riscos que o Instituto de Defesa do Consumidor - IDEC destaca, entre eles:
1) aumento das alergias: o(s) gene(s) de uma espécie que causa alergia, ao ser transportado para outra espécie, poderá provocar a transferência desta característica. Um caso real ocorrido nos Estados Unidos: pessoas alérgicas à castanha-do-pará comeram produtos contendo a soja transgênica com gene de castanha-do-pará e também experimentaram as mesmas reações alérgicas. Haverá, portanto, aumento dos casos de alergia na população mundial.
2) desenvolvimento de resistência bacteriana: são usados nos alimentos genes marcadores resistentes a um determinado antibiótico, o que pode conferir a capacidade do produto de produzir uma enzima que inativa o medicamento quando ingerido oralmente; consequentemente, haverá maior resistência dos microrganismos aos antibióticos.
3) potencialização dos efeitos de substâncias tóxicas: muitas plantas possuem substâncias tóxicas naturais para se defender de seus inimigos naturais - os insetos, por exemplo; se manipulados geneticamente, os níveis dessas toxinas podem aumentar.
4) aumento de resíduos de agrotóxicos: alguns dos produtos transgênicos têm como característica se tornarem resistentes aos efeitos dos agrotóxicos - é o caso da soja transgênica "roundup ready", resistente ao herbicida roundup -, o que permite que seja aplicado mais veneno (agrotóxico) na plantação, cujos resíduos permanecerão nos alimentos e poluirão os rios e o solo.
Composição da Soja Transgênica
De acordo com o parecer da CTNBIO, a soja tolerante ao herbicida glifosato, linhagem 40-3-2, foi obtida pela introdução no genoma da planta o gene que codifica para enzima 5-enolpiruvatoshiquimato-3-fosfato sintetase (EPSPS), isolado do Agrobacterium tumefaciens estirpe CP4. A transformação foi realizada através da biobalística. Além do gene cp4 epsps, foram introduzidos no genoma da planta fragmentos de DNA correspondentes ao promotor 35S do vírus do mosaico da couve-flor, a região N terminal do peptídeo de trânsito para o cloroplasto, do gene epsps de petunia e a porção 3' do gene da nopalina sintase (NOS 3'). Portanto, a EPSPS é a única proteína codificada do DNA introduzido.
Os dados comprovam também que houve um único sítio de inserção com uma única cópia do gene. Foi confirmada a estabilidade do gene introduzido e seu comportamento como gene dominante, com segregação mendeliana da 3:1. Foram apresentados dados sobre a sequência de aminoácidos da CP4 EPSPS e comparações desta sequência com a de outras EPSPS, inclusive aquela produzida pela soja não modificada. Foram também mostrados dados sobre níveis de expressão da CP4 EPSPS na linhagem GTS 40-3-2 e sobre a atividade da enzima nos grãos de soja tostados e não tostados e em diferentes pHs. Não foi detectada atividade em pH menor do que 5 e nos grãos tostados, indicando que esta atividade seria perdida no estômago humano, caso não fosse eliminada pelo processamento, e na ração animal, onde os grãos passam por um tratamento térmico.
Fontes: Revista Veja julho 99; Folha de São Paulo, julho 99; da SBPC - Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.