Substâncias que Alteram a Saúde do Homem Moderno

Idiomas

Portugués (brasileño)
Estrogênios - 50 anos
Data: 
Porto Alegre, novembro de 2003
Autor: 
Dr. Cláudio Paciornik

3ª JORNADA SUL-BRASILEIRA DE HOMEOPATIA

SUBSTÂNCIAS QUE ALTERAM A SAÚDE DO HOMEM MODERNO

ESTROGÊNIOS – 50 ANOS

 Cláudio Paciornik1

 

Hoje o planeta tornou-se estrogênico. O que isso significa?

Inicio por duas partes: a primeira delas será com as mudanças culturais que ocorreram no século 20, quando as famílias, com dez filhos em média, amamentados dois anos cada, passaram a compor-se de três ou menos filhos, amamentados por seis meses ou menos.

O estrogênio, com suas inúmeras atuações nos organismos vivos, atua livremente no organismo feminino, sem seus complementares na sinfonia hormonal, que são a progesterona (o pró-gravidez), as secreções da placenta e outros. A atuação do estrogênio na fase proliferativa dos órgãos alvos foi aumentada exponencialmente.

Ora, se uma mulher menstruava no máximo 100 vezes no século 19 e algumas “não tinham este vício”, como filmei num relato de uma mulher da etnia Guarani, atualmente, a menstruação ocorre aproximadamente em todos os ciclos ovulatórios de sua vida, excetuadas as épocas da gravidez e da amamentação, o que somam 3 anos em 30 de vida fértil dela. (PACIORNIK, 1979)

Assim, o estímulo não interrompido nos órgãos-alvo - mamas, endométrio - aumenta o número de divisões celulares, sem o amadurecimento das células, que ocorrerá pela ação de seus complementares. E permanecem “adolescentes”, jovens, preparando-se para uma próxima fecundação que não acontece, o que resultará maior número de mitoses e conseqüentes possibilidades de mutações. As patologias daí advindas são inúmeras: aumento das doenças fibrocísticas, proliferações atípicas, câncer de mama, este último, hoje, o de maior incidência nas mulheres no Brasil. Com efeito, constatamos a maior incidência de infertilidade, o aumento de miomas, endometriose, os ovários policísticos e também o câncer de endométrio.

A mudança cultural acarreta alterações biológicas e é facilitada pela síntese do progesterona, conforme o observado por Ressel E. Marker, a partir do inhame mexicano, Barbasco (Dioscorea pp), planta silvestre rica em diosgenina que cresce no Estado de Vera Cruz.

Em 1951, Carl Djerassi descobre a Noretindrona (17 alfa-ethinyl 19 nortestosterona) e que foi aprovada em 11 de maio de 1960 pelo FDA, a ser usado com esteróide sintético para fins anticoncepcionais (DJERASSI, 2000, p. 6) e que propicia a mudança de comportamento, estimulada pelo mundo afora,  pelas políticas de países, movidos pelo espectro da explosão demográfica e da escassez alimentar anunciada por Thomas Malthus (1766-1834).

Guardemos isso para depois, uma vez que advém daí o raciocínio em que se estimula a anticoncepção assim como a revolução verde. Nesta criam-se as sementes híbridas, utilizando-se a tecnologia na agricultura, ou seja, os adubos químicos após análise e correção do solo e altas doses de “defensivos agrícolas”, agrotóxicos ou inseticidas, para que, pela alta produção, possibilitar a erradicação da fome do planeta, aumentando-se, dessa forma, o alimento e diminuindo-se a população. Também são usados inseticidas, como o DDT, no intuito de reduzir as doenças transmitidas por vetores, como a malária.

Tal fato introduz a segunda parte do que estamos discorrendo: os eco estrogênios sintéticos,  produtos resultantes da indústria química e que, ao atuarem no organismo vivo, estimulam a esteroidogênese, de uma forma mais potente, mais cumulativa e mais duradoura que os estrogênios produzidos por animais e plantas, os “seres vivos”. Eles são causas indubitáveis de alteração na sexualidade, na fertilidade e ainda propiciam mutações que, em contacto direto, levam à teratogênese, caso aconteça a contaminação intra-útero.

O ciclo vicioso perpetua-se pela forma como os processos vivos acontecem no universo:  um grande e universal sistema de transmissão de informações, desde o vazio ao atômico, desde o  atômico até o multicelular mais complexo. Portanto, há uma fonte de inteligência infinita, transmitindo continuamente, transformado-se em infinitas mutações e fonte transformada em dados sensoriais onde as divisões entre vivos e não vivos, racionais e irracionais inexistem. Ainda: onde um paramécio tem cílios com microtúbulos, organelas análogas às encontradas em nossos neurônios, com função na transmissão de informações. Microtúbulos capazes de “computação quântica”, processamento de dados típicos dos elétrons e quarks.

Antes de adentrarmos no funcionamento desses sistemas vivos e expor como se formaram estes sistemas, vamos nos recordar, fazendo dois recortes: de como idéias científicas e a ciência,  ampliação das religiões que exacerbam o eu, pode ser base para uma visão esquizofrênica de mundo, com conseqüências impossíveis de serem percebidas, mas que, de forma alguma, eximem o cientista de sua responsabilidade. Este não é um agente passivo e inocente de uma época. Ele, tanto pode auxiliar na pesquisa de células tronco, quanto pode servir a interesses outros,  quando cita para estadistas crédulos que poderemos criar árvores por transgenia que seqüestrarão mais carbono do ambiente, e que tal seqüestro, aumentado, servirá de  moeda de troca em dívidas assumidas.

O primeiro exemplo é René Descartes que no século 17 prega a separação rígida entre corpo e espírito. Os humanos haviam recebido de Deus o dom dos sentimentos e a inteligência, enquanto os animais e a Natureza deveriam ser comparados a máquinas. Segundo Descartes, quando um cão está ganindo, aparentemente de dor, na verdade não está sentindo nada: o ganido seria apenas a passagem de vento por estruturas vocais.

O mesmo se pensava quando nenéns humanos, ao nascer pendurados pelos pés, choravam e apanhavam  para serem estimulados; nada sentiam, pois seu “sistema nervoso não estava formado”. Descrevo a conduta médica de 40 anos atrás. Nasciam sem sentir e sem memória.

Até hoje  em “boas maternidades” deste país, os filhos(as) são separados de suas mães ao nascer para ficarem,“para segurança deles”, mais bem cuidados, por 6 horas em berçários muito bem equipados, sob o cuidado de enfermeiras e médicos de alto padrão.

O segundo exemplo: vamos nos reportar ao que propiciou à indústria química seu salto tecnológico com Justus Von Liebig.  Ele enunciou sua lei em relação aos ciclos de nitrogênio, afirmando que o crescimento das plantas é limitado pelo elemento presente no solo na mínima quantidade adequada. É a Liebig  que se reputa a visão mecanicista e reducionista da pesquisa científica na biologia – entender o todo mecânico pela visão de suas menores partes.

São Fritz Haber e Carl Bosch quem, em 1908, descobrem o ciclo que leva seus nomes, quando conseguem fertilizantes à base de nitrogênio em altas quantidades. Foi também a partir dessa descoberta que Fritz Haber com a mesma fórmula conseguiu desenvolver explosivos e armas químicas, como o cloro em gás.

Ele iniciou os meios tecnológicos para fazer a guerra com gás, que matou 1.3 milhões de soldados, assim como liderou os primeiros ataques da guerra química. Foi dessas descobertas que surgiu o conglomerado IG Farben, composta pela Bayer, BASF, Agfa, Hoechst, Cassella e Kalle. (CORNWELL, 2003, pp. 50; 52; 57) É a mesma corporação que vai produzir o Cyclon, cuja patogenesia foi estudada por Mateus Marin.

Na Segunda Guerra Mundial, estoques de bombas para destruir a colheita japonesa deixaram de ser utilizados, pois uma bomba mais efetiva foi usada antes e que acarretou na rendição dos filhos do Sol Nascente. Esses químicos foram remanejados para serem usados na agricultura, pela capacidade de matarem as ervas “daninhas”.

Assim temos com o uso de adubos e agrotóxicos, a formação da agricultura química, mecanicista, seguindo Von Liebig, consciente como a interpretação do ganido do cachorro de  Descartes.

Da revolução verde, escravos do mito de Sísifo e de Janus, vamos à transgenia na agricultura que produz alimentos mais baratos e melhores.

 

Hormônios e Receptores Hormonais

Os organismos possuem receptores antes julgados específicos, que transmitem as informações do meio externo e interno, para o núcleo de suas células, ou para o seu citoplasma. Desde os seres unicelulares, hormônios (mensageiros químicos) são produzidos, sendo as glândulas dos seres  multicelulares uma especialização posterior. A capacidade de as células fabricarem hormônios é generalizada. Encontram-se hormônios gastrointestinais no cérebro e hormônios reprodutivos na saliva e secreções gastrointestinais. Cânceres produzem hormônios. O intestino é considerado o “segundo cérebro”.

Com efeito, os hormônios são mensageiros químicos que portam informações para  a biblioteca da célula, o DNA nuclear, que com seu conhecimento acumulado nos genes, ativa a produção de proteínas e comportamentos celulares. Também leva informações para a periferia da célula, acelerando e modulando a transmissão dessas informações entre o sistema nervoso, fio condutor,  para atuação no meio vivo. O sistema vivo por inteiro participa dessa comunicação, facilitando respostas comportamentais de adaptação e preservação do processo vida. Os hormônios, substancias informativas, ligam-se aos receptores na membrana nuclear ou no citoplasma da célula. E moléculas que se ligam aos receptores e produzem uma resposta específica são definidos como ligands.

Os Ligands que têm como sua molécula básica o colesterol são os ligands esteróides (estrogênios, progestagênios, androgênios, glicocorticoides e mineralocorticoides). Os Ligands que têm como sua molécula básica os aminoácidos são os ligands peptídeos.

Os Ligands esteroides agem no núcleo das células; os peptídeos agem nos receptores localizados na membrana celular. Os Ligands peptídeos muito pequenos atuam na transmissão de informações entre as células nervosas; são chamados de neurotransmissores.

A reação específica dos tecidos aos ligands esteróides, seja fígado, rim, útero, mama, cérebro, é similar. O mecanismo inclui:

1- difusão pela membrana celular;

2- ligação com a proteína citoplasmática receptora e transferência do complexo hormônio-receptor pela membrana nuclear para o núcleo celular (translocação);

3- ligação do complexo hormônio-receptor ao DNA nuclear (transformação);

4- síntese do mRNA, RNA mensageiro (transcrição);

5- transporte do mRNA aos ribossomos e

6- síntese de proteínas no citoplasma que resulta na atividade celular específica.

Tinha-se que os ligands eram específicos ou fiéis. Viu-se que não.

Os produtos químicos ligam-se também aos receptores formando ligands potentes. São disruptores endócrinos, ou “impostores” criados pela atividade humana.

 

A Estrogenioterapia

Como descrevemos antes, uma das principais aplicações foi na anticoncepção, junto com a progesterona. Os efeitos do uso da pílula anticoncepcional, a partir de 1960, acontecem principalmente no comportamento humano, propiciando a “revolução sexual”, o prazer livre da possibilidade da gravidez, sem espectros ameaçadores, que  reaparecem na década de 1980 com as novas doenças sexualmente transmissíveis.

A outra parte da estrogenioterapia aparece inicialmente também no final de 1960 com o uso do estrogênio para os “distúrbios da menopausa”. É nessa época que é cunhado por Wilson, num livro publicado pelo laboratório Ayerst a expressão “Feminility for Ever”. Ou seja, a feminilidade para sempre. Afora corrigir sintomas que podem ou não se apresentar na parada das menstruações, surge o interesse dos laboratórios que vislumbram uma população consumidora e rentável.

Sociedades médicas de estudo da menopausa são criadas, o receituário é incentivado, a preocupação dos laboratórios e dos médicos é a “adesão ao tratamento”, e a persistência com o tratamento por mais espaço de tempo. Mesmo que as experiências ocorridas, como:

- o uso do dietilbestrol como prevenção de abortamentos, tenha tido como conseqüência cânceres de vagina nas filhas das usuárias e infertilidade nos filhos; (COLBORN; DUMANOSKI; MYERS, 2002, p. 73)

- estrogênioterapia continua sem adição de progesterona, causando câncer de endométrio;

- câncer de mama, aumentando progressivamente a partir de 5 anos de uso. São vistos como fatos isolados; no caso do câncer de endométrio são corrigidos com a associação de progesterona e com diferentes esquemas de tratamento.

O “paraíso” continua, a ponto de sarcasticamente, podermos citar duas frases da época:

“Quem receita estrogênio para mulheres de 35 anos, não sabe sobre estrogenioterapia e também não  conhece mulher.” Outra: “ Estão receitando estrogênios  para as mulheres, fazendo crer que elas aos 80 anos de idade estarão engravidando e fazendo abortos provocados.”

Independente dos benefícios que um remédio pode trazer quando bem indicado, a generalização dessa conduta foi interrompida abruptamente, quando um estudo prospectivo, realizado pelas enfermeiras norte-americanas, interrompeu o uso da associação estradiol com progesterona, premarim mais medroxiprogesterona, via oral. Isso por considerarem que a saúde das mulheres participantes dessa haste do estudo estava muito exposta. Com efeito, tal associação de estrogênios, combinado com progesterona via oral, aumenta em duas vezes o risco de câncer de mama se comparado com mulheres que não usaram terapia de reposição hormonal. (Woman’s Health Initiative, mai, 2002)

Benefícios que constavam como proteção cardíaca dos estrogênios já foram retirados de suas bulas. Outros estudos confirmam o aumento do câncer de mama em relação ao grupo que não faz uso da terapia de reposição hormonal: a tibolona - aumento de 1,45 vezes; estrogênios isolados em mulheres submetidas à histerectomia - aumento de 1,3 vezes.

“Todas as formas de utlilização de TRH depois de dez anos nas mulheres de 50 a 64 anos é diretamente responsável por 20000 cânceres de mama suplementares no Reino Unido”,  estima Valerie Beral (2003, p. 26), epidemiologista que supervisiona o estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa sobre o Câncer de Oxford (um milhão de mulheres britânicas entre 50 e 64 anos foram acompanhadas no período entre 1996 a 2001). 

Outros estudos epidemiológicos estão sendo realizados, inclusive para se saber as conseqüências do uso da pílula anticoncepcional na população total de países. As pesquisas deverão aparecer nos próximos anos.

O que se tinha também como conhecido era a hipótese da janela de estrogênio para a etiologia do câncer de mama:

1- Câncer de mama é induzido por carcinogênicos ambientais numa mama suscetível;

2- Estimulação estrogênica sem oposição é o estado mais favorável para a indução tumoral (janela aberta);

3- A duração da exposição estrogênica determina o risco (por quanto tempo a janela está aberta);

4- O tempo de expressão clínica e a indução do tumor é longo;

5- A suscetibilidade à indução declina com o estabelecimento da fase luteal normal com secreção de progesterona e torna-se muito baixa durante a gravidez. (A janela é fechada, mas se já houver uma alteração induzida, os hormônios que reduzem suscetibilidade podem promover o crescimento do tumor). (KORENMAN, 1980, p. 874)

Os dois períodos maiores de indução são os anos da puberdade prévios aos ciclos ovulatórios menstruais e prévio ao período da peri-menopausa. O prolongamento desses períodos, por obesidade, infertilidade, gravidez tardia, menarca precoce e menopausa tardia, seriam associados ao aumento da suscetibilidade aos carcinogênicos ambientais. A estrogênioterapia na pós-menopausa aumenta a segunda janela. (HOOVER et alii. 1976, p. 401)

Nos sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki não se evidenciou nenhum câncer de mama nas crianças com menos de 10 anos. No entanto, houve aumento na incidência entre 10 e 29 anos, com um risco marcado, no período de 10 a 14 anos, o período prévio à menarca. Não houve diferença entre os 30 e 49 anos. Após os 50 anos o risco reaparece. (TOKUNAGA et alii. 1979, p. 1367)

Mulheres com tuberculose submetidas à fluoroscopia repetidamente,  tiveram um aumento do risco de câncer de mama em relação ao grupo-controle com 15 e 20 anos de idade e sem aumento após a idade de 30 anos. O maior risco apareceu após 15 anos de exposição e persistiu até pelo menos 40 anos. (BOICE; MONSON, 1977, p. 823).

 

Se a idade da terra fosse 24 horas, a do homem seria 1 minuto. A das civilizações 1 segundo. O período que abrange o objeto da minha apresentação um milésimo de segundo.

A imagem que inicia este trabalho é uma simulação realizada num supercomputador, da estrutura de larga escala do universo. Cada partícula representa uma galáxia. (REES, s/d, p. 73-74) O sistema solar um ponto na galáxia; nós um ponto no planeta.

Assim como o Tiranossauro Rex é hoje representado por lagartixas na parede, móveis de plástico e carros movidos a combustível fóssil, especular sobre o que virá como conseqüência de nossas vidas só é possível como um exercício no qual somos coadjuvantes responsáveis.

Antes, vamos imaginar como foram as “23 horas e 59 minutos”, os 14 bilhões de anos, desde o início com o hipotético “big-bang”, no qual após 3 minutos o plasma das partículas e a radiação resfriaram-se o suficiente para permitir a formação de núcleos atômicos simples; após 300 mil anos átomos de hidrogênio e hélio começaram a se formar. Um bilhão de anos depois, surgem as primeiras estrelas e galáxias que agem como imensos ecossistemas, forjando elementos e reciclando o gás através de sucessivas gerações de estrelas.

A humanidade é feita de poeira de estrela, ou do lixo nuclear decorrente do combustível que faz as estrelas brilharem. Eram as galáxias no seu início bolas de gás incandescente e difuso, pontilhadas por estrelas em rápida combustão. O hidrogênio primitivo é transformado em átomos mais pesados, e, quando de sua morte, semearam as suas galáxias com os componentes básicos para a construção da vida e dos planetas: carbono, oxigênio, ferro, etc.

Imaginamos que, logo após o “big-bang”, pacotes de energia rodopiantes, quando  aproximadas, novas forças formam. Átomos simples mais lentos do gás flutuante se formam e constituem toda a substância do universo.

A força entre blocos de matéria – gravitação.

Forças nucleares fortes e fracas – átomos e estrelas.

Última força a surgir que combina os átomos em moléculas é a força elétrica.

As forças básicas de atração e repulsão transformam o universo. Maiores nuvens de gás se formam, com redemoinhos dentro de si mesmos, transformando-se algumas das mais espessas em protogaláxias faiscantes.

Fótons são as  partículas de energia criadas quando outras partículas colidem entre si.

Estrelas e a chama de uma vela são feitas de átomos e partículas que se movem tão rápido que  numerosos fótons são criados.

O primeiro átomo a se formar foi o Hidrogênio. Após o Hidrogênio, transforma-se em Hélio com desprendimento de mais calor e mais luz.

Uma estrela de primeira grandeza perde energia e implode espalhando poeira como sementes.

Estrelas com átomos maiores e mais pesados surgem. Todos os átomos do universo e todos os elementos criam-se a partir do átomo de hidrogênio. A galáxia é mantida coesa pelo seu anel central, esqueleto onde se acumulam todas as substâncias.

Átomos de estrelas que explodem são pesados demais para formar novas estrelas e tornam-se planetas que giram em torno delas, formados de elementos mais leves.

Átomos tornam-se moléculas e estas tornam-se seres vivos. São criados em processos galácticos .

A poeira estelar forma dos planetas até o homem. A terra é radioativa, no seu núcleo que é mantido quente por reações nucleares incessantes e por numerosos átomos que continuam a explodir por toda a sua superfície, nas rochas, árvores e mesmo em nosso corpo.

Calculou-se que em nosso corpo, 3 milhões de átomos de K+ explodem a cada minuto. Somos feitos, e tudo o que faz parte de nosso mundo, de poeira estelar.

 

Como a rocha transforma-se em vida

Adamus em hebraico significa Terra, nos dois sentidos: planeta e solo. Donde,  Adam, o primeiro homem, feito da terra mais o sopro divino. No seu início hermafrodita, sai a nominar os animais, e vendo-o só, Deus,  de uma das partes desse homem, cria a mulher, carne de sua carne que tendem a unir-se.

No mito grego a deusa Gaia sai dançando no vazio negro - o Caos - envolta em brancos véus, rodopiando na escuridão. Torna-se visível,  cada vez mais rápida. Seu corpo se transforma em montanhas e vales; em seguida, o suor que dela emana se junta nos mares e, finalmente, seus braços voadores geram um vento-céu que ela chama de Ouranos – que é a palavra grega que designa céu, no qual se agasalha como protetor e companheiro. Da união dos dois são geradas as florestas e as criaturas, desde os deuses até os humanos mortais.

Ouranos é condenado ao exílio, às profundezas, por reclamar o crédito pela criação. Diz o mito que, para satisfazer a curiosidade do homem, Gaia deixou que seu conhecimento e sabedoria vazassem através de rachaduras na Terra.

 

E o mito científico como é?

1- A energia solar incidindo no metal fundido do núcleo do planeta, criou poderosos campos magnéticos e elétricos.

2- Na crosta da terra através da delgada camada atmosférica antiga, a energia solar gerou força elétrica molecular nos grandes campos elétricos, formando tempestades acima deles, dissolvendo moléculas sob a forma de lama, poeira de rocha e água do mar, engendrando novas moléculas maiores.

3- As maiores moléculas orgânicas, tais como os açúcares, ácidos e lipídios formados na Terra jovem são também formados em grande quantidade e variedade no centro de nossa galáxia e talvez em toda ela. Algumas delas chegam a Terra trazidas por meteoros.

4- Alguns cientistas acreditam que as molécula gigantes se formaram quando elas se alinharam em moldes gabaritos de argila ou outra matéria cristalina que possuía um padrão ou riscas regulares na superfície, que se repetiam, e nas quais  as moléculas podiam se prender.

5- A substância química fundamental na vida na Terra, é o carbono, ou melhor, compostos reduzidos de carbono, que são átomos de carbono envolvidos por átomos de hidrogênio. O carbono vivo e energizado da Terra combinou-se facilmente com o oxigênio, o nitrogênio, o enxofre e o fósforo para formar toda sorte de moléculas e substâncias orgânicas.

Em algum ponto no início da história do planeta havia volumes abundantes de moléculas de açúcar e ácidos necessários para construir as longas cadeias de molélulas do RNA, DNA e das proteínas. A formação de cooperativas de moléculas tornou-se, ao que tudo indica, inevitável na lama morna e úmida e nas águas rasas dos mares, onde as moléculas podiam flutuar e chocar-se uma com as outras.

6- Alguns argumentam que essas parcerias não poderiam ter acontecido até que as moléculas estivessem fechadas em bolsa ou membranas, que as mantinham juntas de outras moléculas e de suprimentos e que impediam que fossem dissolvidas. Os candidatos mais possíveis são os lipossomos – corpos gordos. Vistos ao microscópio eletrônico, formam-se  como esferas ocas de moléculas de lipídios, em todos os casos em que moléculas de lipídios flutuam na água. A cauda dessas moléculas são hidrofóbicas, afastam-se da água de forma que suas cabeças formam uma esfera apertada em volta delas. Formam uma camada dupla ficando as caudas entre as duas camadas de cabeça. É a formação típica da membrana celular, das células simples até as mais complexas. Ao se abrirem e fecharem, secarem e serem liquefeitas, aprisionam moléculas e criam o ambiente químico interno diferente do externo.

7- Assim são formadas as proteínas, que se tornam o tijolo fundamental da construção da célula viva. O DNA e o RNA trabalham com as proteínas, como um código de 4 letras, tornando-se um sistema de cópia e formação de vida. Um sistema de In-formação.

8- O DNA pode copiar a si mesmo ou replicar-se com a ajuda de proteínas, abrindo-se em duas metades de um zíper, cujos dentes atraem novos parceiros exatamente iguais aos que estavam no lado oposto de si mesmos no zíper fechado, porque estes são os únicos que engrenam. Os dois são exatamente iguais se nenhum erro foi cometido. É a biblioteca da célula e contém todas as informações acumuladas, que podem ser ativadas ou inibidas, e é passada à descendência. Alterações podem ser induzidas por informações nos receptores celulares, por processos epigenéticos,  por proteínas que modificam o código, por radiações

O processo foi acelerado ou possível com o aparecimento das enzimas, dentro e fora das células antigas.

9- A Terra tem 4 bilhões e meio de anos. As bactérias inteiramente desenvolvidas  apareceram há 3 bilhões e meio de anos. Por dois bilhões de anos a forma de vida predominante foram só as bactérias. Há 1 bilhão e meio de anos as bactérias moneras, as criaturas mais numerosas do planeta utilizam a fermentação para obter energia. À medida que os ciclos climáticos faziam a água circular, a rocha era dissolvida na água corrente e varrida para os oceanos. Gases percorriam o planeta e o clima, e a temperatura do planeta era regulada entre o equilíbrio constante dos gases  formando-se as extensões de nuvens.

10- As moneras quebravam as moléculas por fermentação liberando a energia que as mantinha coesas. A energia é armazenada no ATP. Cresciam, dividindo-se por mitose. Ao aumentarem em número, baixam o suprimento de moléculas para a fermentação; inventam o  aproveitamento da energia diretamente do sol, através da fotossíntese via elementos químicos sensíveis à luz, as porfirinas. Estas tornam o sangue vermelho e a clorofila torna a vegetação verde. Usaram essa energia para acumular ATP e, a partir disso, construir moléculas de açúcar, DNA e mais ATP.

11- Algumas dessas moneras fotossintetizadoras  são chamadas bactérias azul-verdes. Elas se multiplicaram rapidamente, mas ao eliminarem oxigênio da reação da água e do CO2, eram mortais para as outras moneras. O oxigênio destrói as moléculas gigantes de seres vivos,  queimando-as exatamente como faz a radiação ultravioleta.  É mais destrutivo que a radiação ultravioleta. As bactérias bombeavam CO2 da atmosfera e jogavam CO2 como resíduo. Bombeavam nitrogênio, que extraiam dos sais do mar, fixavam uma parte para usar e devolviam à atmosfera a parte inútil. Grande parte das bactérias fermentadoras não sobreviveu. As que sobreviveram enterraram-se na lama onde o oxigênio não as alcançava, ou no estômago de ruminantes ou nos nódulos de raízes onde ajudam a digerir o feno e fixam o nitrogênio para enriquecer o solo.

12- As azul-verdes inventaram enzimas que tornavam inofensivo o oxigênio para elas. Aprenderam a usar o refugo do oxigênio que fabricavam juntamente com as moléculas de alimento, para destas últimas obter energia. A queima de alimento com oxigênio é a respiração, a terceira maneira de fabricar ATP, após a fermentação e a fotossíntese.

13- Protozoários e fungos vivendo em área ricas de oxigênio ficaram em ambiente anóxico por uma mudança ecológica drástica. Suas mitocôndrias sem poder produzir energia pela carência de O2, transformaram-se em hidrogenossomas, por transferência de material genético que pudesse sobreviver nessas regiões. Alguns protozoários que vivem no intestino de baratas têm hidrogenossomas que se parecem com mitocôndrias, outros fungos que vivem no intestino da lhama e do elefante são bem diferentes.  Os hidrogenossomas são organelas que produzem energia a partir do hidrogênio.

14- Essas bactérias dividiam-se por mitose. Mito significa fio. O fuso mitótico, movimentação dos cromossomas ao longo dos fios é um processo de tecelagem. As bactérias não morrem. Elas se dividem em dois para se tornar sua própria prole. O sexo é a troca de material genético. Entre as bactérias, o DNA recombina-se,  sem estar ligado à reprodução mas  à comunicação de informações úteis. Assim a resistência aos antibióticos se transmite por todo o planeta rapidamente. O paramécio tem 8 formas diferentes de trocar material genético, ou seja, 8 formas de sexo.

15- A morte natural não havia ainda sido inventada. Ela se inicia quando surgem os pluricelulares que transmitem seu DNA por meiose, onde se inicia a reprodução entre dois parceiros da mesma espécie e que uma vez passado seu material genético, necessitam morrer para serem reciclados. Na célula atual  as moneras azuis verdes são os cloroplastos, e as bactérias respiradoras são as mitocôndrias, cujo DNA é diferente do DNA nuclear.

 

O Mito da Criação do Homem no Candomblé

Todos os Orixás tentaram fazer o homem. Só a morte conseguiu. Pegou pedaços de terra e Oxalá soprou. Quando o homem morre seu corpo é devolvido à terra, e o sopro vai de volta a Oxalá.

A vida é a essência ou o processo de todo o ser vivo. Um sistema autopoiético (é vivo tudo o que cria ininterruptamente suas partes) cria e mantém a si mesmo, inventando soluções a medida em que são necessárias. Tudo o que vemos no planeta está vivo ou já foi vivo. Respiramos gases produzidos por seres vivos.

Vernadski disse que a vida era “uma dispersão de rochas” porque considerava a vida como um processo químico que transformava as rochas em matéria viva altamente ativa e vice-versa, dissolvendo-a e movendo-a de um lado para o outro em um processo cíclico infindável. É o conceito da vida de rochas rearrumando-se, acondicionando-se como células, acelerando suas mudanças químicas com enzimas, mudando a radição cósmica em formas próprias de energia, transformando-se em criatura sempre em evolução e voltando ao estado de rocha. (SANTHOURIS, 1998, p. 71)

 

Os Hormônios e o Comportamento 

Já vimos que os ligands esteróides e os ligands peptídeos acontecem cedo quando da formação da membrana celular resultante da proteção que os lisossomos fazem ao permitirem a formação de moléculas maiores. Estes existem desde os seres unicelulares até os mamíferos. Os Ligands esteroides têm como molécula básica o colesterol. São o cortisol, a adrenalina, a nor-adrenalina, o estrogênio, a progesterona e a testosterona.

Os Ligands peptídeos são os neurotransmissores, peptídeos pequenos que transportam informações entre as células nervosas. Exemplos são a ocitocina e a vasopressina, compostos de 9 aminoácidos.

Ora, o corpo humano inteiro é uma glândula endócrina no sentido de mensageiros químicos informando comportamentos. Os hormônios são mensageiros químicos de informações que vão atuar no código genético, a biblioteca da célula, determinando comportamentos e características da forma de vida. O estrogênio na mulher, hormônio do estro, ou do cio, atua em todo o corpo, através de seus receptores, preparando-a para a fecundação. Ele é responsável pelos caracteres sexuais secundários, turgor de todas as mucosas, da maciez da pele, da boca, de todas as glândulas do nariz, ouvido, vagina, respondendo o tecido epitelial a ele. Por sua vez o estrogênio estimula a formação de receptores de ocitocina.

A ocitocina  estimula a liberação de  um “peptídeo natriurético atrial” por certas células do coração. A ocitocina determina a preferência por parceiros em fêmeas e a vasopressina por parceiras em machos.

Já a feniletilamina (PEA) parece ter 1 papel chave como estimulante para o romantismo e outros tipos de excitação. Na primeira fase do amor a serotonina encontra-se baixa. As endorfinas são liberadas na relação sexual.

Doença do amor, síndrome de abstinência. O tratamento com antidepressivos aumenta a feniletilamina e outros neurotransmissores, a serotonina e a nor-adrenalina.

Androsterona – ferômonio masculino encontrado no suor das axilas, atraem as mulheres quando estão ovulando.

Feromônios vaginais, capulins.

Prolactina é associada com o cuidado com a prole, construção do ninho, comportamento agressivo-defensivo das mães.

O coquetel  hormonal é o mesmo na atração sexual, no comportamento específico da espécie, na relação sexual, na parturição, na amamentação, na vinculação entre parceiros, na vinculação mãe-filho, e na vida intra-útero determinando a diferenciação sexual. Com certeza, o comportamento é influenciado pelos hormônios e vice-versa.

Um cabra montês macho que compete  por uma fêmea e vence, tornando-se o alfa dominante, atinge níveis de testosterona 70 vezes maior que o derrotado. Traduzindo, nossos ciclos e  emoções são respaldadas por mensagens químicas imediatas que por sua vez propiciam comportamentos adequados para as situações que vivemos.

 

CONCLUSÃO

Os estrogênios estão  na terra há 3 bilhões de anos e são parte do processo Vivo. Nos últimos 50 anos, ele foi utilizado como remédio para evitar a procriação dos seres humanos, sendo coadjuvante numa mudança de comportamento que se torna biológica, cujos resultados ainda estamos começando a perceber. Os estrogênios foram estimulados como panacéia química, com a tarefa de perpetuar o bem-estar e a juventude feminina, ideal sem dúvida nobre, cujos resultados hoje são discutidos, o que deixa claro que outras vias mais seguras devem ser trilhadas.

A outra vertente dos eco-estrogênios sintéticos, produtos do trabalho humano através do desenvolvimento da indústria química, que atuam através dos receptores estrogênicos existentes em todas as formas de vida do planeta, como “impostores”, são de efeitos catastróficos cumulativos nestes 50 anos. Eles estão alterando a fertilidade das formas de vida, provocando alterações na diferenciação sexual da Vida no planeta. Estão ainda relacionados às diferentes formas de câncer, alguns epidêmicos e por fim relacionados à extinção de espécies.

A Vida solucionará uma vez mais como o fez nesses 4 bilhões de anos. Nós teremos a grande oportunidade de presenciar a nossa mudança para condutas mais inteligentes e coerentes com a visão do todo,  ou o nosso desaparecimento.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOICE, J. D; MONSON, R. R. Breast cancer in woman after repeated fluoroscopic examinations of the chest, JNCI, 59:823, 1977.

CASTRO, G. O. Planejamento Familiar, origem desenvolvimento e impacto. In A Pílula anticoncepcional 40 anos de impacto social, M.V. Limitada, (patrocínio) Schering A. G., Alemanha, out. 2000.

COLBORN,T.; DUMANOSKI, D.; MYERS, J. P. O Futuro Roubado. (trad.) Cláudia Buchweitz, Porto Alegre: L&PM, 2002.       

CORNWELL, J. Os Cientistas de Hitler. (trad.) Marcos Santarrita, Rio de Janeiro: Imago, 2003.

DJERASSI, C. Prólogo. In A Pílula anticoncepcional 40 anos de impacto social, M.V. Limitada, (patrocínio) Schering A. G., Alemanha, out. 2000.

HOOVER, R.; GRAY, L.A.; COLE, P. MACMAHON, B. Menopausal estrogen and breast cancer, N. ENGL. J. Méd., 295:401; 295:401, 1976.

KORENMAN, S. G. The endocrinology of breast cancer, Cancer, 46:874, 1980.

PACIORNIK. C., [1979], Índios do Sul do Brasil, A Arte de Nascer. 2000. CD ROM.

REES, M. A Exploração do Nosso e de Outros Universos. In O passado e o presente do Cosmos, Scientific American Brasil, 1, Duetto, s/d.

ROMANINI, V. Existo, logo penso.(cit.) Penrose; Hameroff, Terra, jan. 2004.

SANTHOURIS, E. A Dança da Terra. (trad.) Ruy Jungfmann,  São Paulo: Rosa dos Tempos, 1998.

TOKUNAGA, M.; NORMAN, J. E.; ASANO, M.; TOKUOKA, S.; EZAKI, H,; NISHIMORI, I.; TSUJI, Y. Malignant breast tumors among atomic bomb survivors, JNCI 62:1347, 1979.

 

IMAGENS 

Imagens: 1 e 2. REES, M. A Exploração do nosso e de outros universos. In O passado e o presente do Cosmos, Scientific American Brasil, 1, Duetto, s/d.

Imagens: 12, 13, 14 , 15, 20 e 32. PACIORNIK.  C. A Arte de Nascer, 2000. CD ROM.

Imagens: 4,7,8, 9 e 10. http://e.hormone.tulane.edu/e.hormone/hormones and the enviroment. Center for Bioenvironmental Research at Tulane and Xavier University. Acesso em 30/out/2003.

Imagens: 17, 18 e 19. Biologia. (trad.) Mônica Tambelli, São Paulo: Barros Fischer&Associados, 2003.

Imagens: 21, 22, 23, 23, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 33, 34, e 35. NETTER, F. The Ciba Collections of Medical Illustrations, In Endocrine System and Selected Metabolic Diseases, Commissioned and Published by Ciba, vol. 4, 1965.




[1]

Médico ginecologista, obstetra, mastologista e homeopata. Diretor da Clínica Paciornik.